sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Hora da Reconciliação Nacional no Haiti


A exemplo do pedido de união do presidente americano Barack Obama de seus antecessores- George W. Bush e Bill Clinton para unir esforços para a reconstrução do Haiti, é hora de os líderes políticos haitianos pensarem em uma possível união (mesmo que temporária) para a projeção de um futuro sustentável no Haiti. Isto é especialmente importante para o clima de disputa eleitoral que já se iniciava para a substituição de Préval. Qualquer plataforma política deve ser pensada para além das disputas políticas e também com vistas ao fortalecimemnto das poucas lideranças políticas haitianas com capacidade de conduzir este processo dramático. Refiro-me também à volta do presidente Jean Bertrand Aristide, adorado por milhares de haitianos. Não é mais tempo de sustentar ódios ou rivalidades, sobretudo aquelas direcionadas ao ex-presidente que atualmente vive na África do Sul sem comunicação com o Haiti. Críticas e desapontamentos, todos temos em relação a Aristide, mas este é o momento de reconciliação nacional, um período em que Préval teme que convulsões sociais sejam recorrentes e sem controle. Esta é apenas uma questão para reflexão. Quem sabe se com a volta de Aristide a população possa receber uma injeção de esperança?
Há poucas horas, Peroshni Govender publicou na Reuters que Aristide está pronto a voltar para o Haiti. De acordo com a reportagem, Aristide está muito emocionado com a tragédia no Haiti e disposto a voltar ao país, com a ajuda de amigos.
Aristide não é apenas mais um político corrupto, como advogam alguns. O movimento Lavalas que deu suporte político à sua candidatura em 1990, foi o único movimento político capaz de mobilizar toda a nação haitiana, historicamente dividida entre o norte de Christophe e o sul de Péthion. Não é fácil para nenhum presidente eleito democraticamente com forte apelo popular, como era a situação de Arisitide em 1991, levar um golpe de seu próprio Chefe do Estado Maior Raoul Cedras, implorar que a OEA e a ONU tomem alguma providência e ser absolutamente negligenciado pelas autoridades políticas internacionais. O motivo? OS EUA estavam muito ocupados com a dissolução da URSS e com a universalização da sociedade de consulo. A resposta ao apelo de Aristide só veio em 1994, com a absolvição de todos os golpistas. Pois bem, Aristide volta ao poder absolutamente desencantado, irado com as forças políticas haitianas que apoiaram o golpe (em especial, os militares caudatários do macoutismo) e com vontade de recuperar o mandato perdido, o que acabou não acontecendo devido ao fato de faltar apenas um ano para a conclusão de seu mandato. Paralelamente a isso, Aristide dissolve as Forças Armadas haitianas, o que provoca sentimentos de vingança dos ex-militares, que criaram focos de resistência em diversos locais, incluisve na República Dominicana.
René Préval (seu primeiro ministro) assume então a presidência do Haiti de 1996 a 2000, período marcado pela onipresença aristidiana na vida política haitiana e eivao de grandes contradições políticas, como o fortalecimento da OPL - Organização do Povo em Luta, liderada por Rosny Smarth (então primeiro ministro de Préval, a contragosto do Presidente). Smarth abandona o governo em 1998, o cargo fica vago por quase um ano e a partir daí o processo de transição de Préval para Aristide começa a se complicar internamente.
As eleições de Aristide em 2000 foram muito violentas e não reconhecidas pela OEA e União Europeia, mas o próprio Aristide se auto-proclamou presidente, limitando em muito as chances de uma possível reconciliação política entre os diversos setores da sociedade haitiana. Já em 2001, Aristide sofre a primeira tentativa de golpe de seu segundo mandato, perpetrado por Guy Philippe, que vivia na República Dominicana. Aristide escapou do golpe, Guy Philippe também e instalou frentes de resistência no interior do Haiti, especialmente em Gonaives, local em que partiria a principal frente de oposição a Aristide em 2004.
O 2o. governo de Aristide, sob reprovação da comunidade internacional, seguiu sob duras penas e com o apoio logístico dos chimères (jovens armados recrutados de dentro do Fanmi Lavalas) que atuavam como a polícia política do governo. Aristide deu as costas para a institucionalidade haitiana, perseguiu qualquer oposição política e sufocou a classe política haitiana. Mas veio de Gonaives, por meio de suas traições políticas, a revolta de parte da população frente a seu líder. Em feveiro de 2004, a mais ou menos 6 anos atrás, uma marcha até Porto Príncipe acuou Aristide e o fez "concordar"em se retirar do país. O curioso é que Aristide já tinha visto de entrada para a República Centro-Africana e foi transferido com avião de matrícula norte-americana. A saída de Aristide foi rapidamente substituída por uma força multinacional, a MIF, organizada pelos EUA, Canadá e França. A rápida mobilização internacional deixou sérias dúvidas quanto à participação da comunidade internacional na saída de Aristide.
Após este breve resumo da trajetória de Aristide, é possível afirmar que ele errou, mas não errou sozinho e que neste momento de tragédia, ele precisa ter garantido o direito de voltar ao seu país.
O crédito da foto é do Haiti Sciences Po.

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